E, de repente, o paraíso dos banhistas e mergulhadores transformou-se num refeitório para tubarões. Enquanto os cientistas procuram respostas para os ataques em Sharm el-Sheikh, Israel já teve de garantir publicamente que não se trata de uma acção dos seus serviços secretos.
A vida decorre tranquila numa estância balnear, até que, um dia, uma série de ataques de tubarão lança o pânico na região. As autoridades tentam conter os danos, mas, logo a seguir, regista-se a primeira morte. Nessa altura, o alerta geral é dado e, enquanto os turistas são proibidos de entrar no mar, especialistas vindos de fora tentam perceber o que se passa.
Parece a sinopse do velho clássico Tubarão, mas é exactamente o que se passou na última semana em Sharm el-Sheikh, Egipto, uma das mais afamadas estâncias balneares e de mergulho do mundo. O primeiro susto já tinha acontecido dias antes, com os ataques a três turistas russos e um ucraniano, mas foi no domingo, dia 5, que a situação ganhou o dramatismo que nos traz à cabeça as imagens do filme de Steven Spielberg. O corpo de uma turista alemã de 70 anos deu à costa, com a perna direita dilacerada por dentadas de tubarão.
A cena foi horrível. "A água borbulhava como numa máquina de lavar. Eu andava aos tombos por entre o sangue. O tubarão continuava a golpear e a morder aquela pobre mulher e eu mal conseguia manter-me à superfície", relatou ao jornal The Guardian uma turista, Ellen Barnes, que estava na água quando se deu o ataque fatal. Mas isto não representou apenas uma escalada na violência: quando aconteceu, já a opinião pública estava a ser convencida de que os culpados tinham sido apanhados.
A vida decorre tranquila numa estância balnear, até que, um dia, uma série de ataques de tubarão lança o pânico na região. As autoridades tentam conter os danos, mas, logo a seguir, regista-se a primeira morte. Nessa altura, o alerta geral é dado e, enquanto os turistas são proibidos de entrar no mar, especialistas vindos de fora tentam perceber o que se passa.
Parece a sinopse do velho clássico Tubarão, mas é exactamente o que se passou na última semana em Sharm el-Sheikh, Egipto, uma das mais afamadas estâncias balneares e de mergulho do mundo. O primeiro susto já tinha acontecido dias antes, com os ataques a três turistas russos e um ucraniano, mas foi no domingo, dia 5, que a situação ganhou o dramatismo que nos traz à cabeça as imagens do filme de Steven Spielberg. O corpo de uma turista alemã de 70 anos deu à costa, com a perna direita dilacerada por dentadas de tubarão.
A cena foi horrível. "A água borbulhava como numa máquina de lavar. Eu andava aos tombos por entre o sangue. O tubarão continuava a golpear e a morder aquela pobre mulher e eu mal conseguia manter-me à superfície", relatou ao jornal The Guardian uma turista, Ellen Barnes, que estava na água quando se deu o ataque fatal. Mas isto não representou apenas uma escalada na violência: quando aconteceu, já a opinião pública estava a ser convencida de que os culpados tinham sido apanhados.
A televisão egípcia divulgou imagens da captura de pelo menos um dos dois tubarões-de-pontas-brancas que teriam molestado os turistas.
Não eram eles. Ou, pelo menos, não eram apenas eles. E lá se vão as semelhanças com o filme, onde a vaga sangrenta se devia apenas a um tubarão "psicopata"... Especialistas internacionais apontam agora para a hipótese de haver outra espécie envolvida nesta vaga sangrenta: o tubarão-mako. E aqui a trama, como em qualquer filme de suspense, adensa-se. Tanto o pontas-brancas como o mako são tubarões de mar aberto e, por isso, raramente são vistos perto da costa. Por que razão estariam eles agora a caçar em águas pouco profundas, atacando, ainda por cima, seres humanos?
Assassinos ou vítimas?
Não são, propriamente, meninos de coro: os pontas-brancas são mesmo considerados os maiores responsáveis por mortes humanas no mar devidas a ataques de tubarão. Mas não em episódios individuais. Por causa da sua abundância e agressividade, eram eles que dizimavam os marinheiros que sobreviviam ao afundamento dos seus vasos de guerra durante a Segunda Guerra Mundial.
Muitos mergulhadores relatam episódios em que se viram na presença de tubarões-de-pontas-brancas, sem que se tenham sentido ameaçados. Mas reconhecem que se trata de uma espécie com um comportamento menos tímido do que a generalidade dos tubarões. Isto pode dever-se ao facto de habitarem águas muito despovoadas, em que qualquer presa potencial deve ser considerada. E se os mergulhadores, com fatos vestidos e uma noção apurada do que se passa em seu redor, são relativamente fáceis de identificar, já os banhistas e as pessoas que observam recifes com máscara - e que chapinham à superfície - são mais susceptíveis de serem confundidos com presas.
Com um comprimento que pode atingir os quatro metros, os pontas-brancas são um predador formidável, mas não são eles que atacam banhistas e surfistas. Pelo menos até aqui. As notícias e imagens dramáticas que de vez em quando nos chocam são, normalmente, protagonizadas por espécies como o tubarão-branco, o tubarão-tigre ou o tubarão-touro. A questão, portanto, é perceber por que razão andam eles em águas costeiras, fora do seu habitat natural.Um pouco mais pequeno (até 3,2m), o mako é também susceptível de atacar humanos, mas é raro no Mar Vermelho. Em qualquer dos casos, porém, a balança tem pendido muito para o lado da espécie que domina o planeta. Outrora muito abundante, o tubarão-de-pontas-brancas tem agora o estatuto de "vulnerável" porque é o favorito dos gourmets para a sopa de barbatana de tubarão. Quanto ao mako, pela sua velocidade e capacidade para saltar fora de água, é considerado um valioso troféu de pesca desportiva.
Um relance do futuro
A sua presença nestas águas costeiras pode significar que encontram aqui a comida que a sobrepesca lhes roubou em alto-mar, mas há ainda outras explicações possíveis: diz-se que um cargueiro terá, recentemente, lançado ao mar várias carcaças de ovelhas mortas durante uma viagem pela zona, o que atrairia os predadores. Ou que os tubarões, devido à massificação do turismo, estariam a habituar-se à presença contínua de pessoas na água e o seu comportamento começava a passar do medo para a curiosidade (e, nesse caso, quaisquer objectos brilhantes, como jóias, poderiam atrair a sua atenção).
Ou ainda que os serviços secretos israelitas, a mítica Mossad, teriam lançado no Mar Vermelho um tubarão assassino para atacar a indústria turística do Egipto. Seria assim uma espécie de 11.ª praga, depois das dez que Deus, segundo a tradição judaico-cristã, fez cair sobre o povo do Nilo. Parece coisa para rir, mas o Médio Oriente não é sítio para brincadeiras e de Israel já vieram desmentidos formais.
Até porque os rumores iniciais acabaram por ter eco oficial. "Dizem que a Mossad soltou um tubarão assassino no Mar Vermelho para dar um golpe no turismo do Egipto. Não descartamos essa hipótese, precisamos de tempo para confirmar estas denúncias", avançou, em declarações à agência Reuters, o governador do Sul do Sinai, Abdel Fadil Shousha. Em Israel, a reacção não tardou: "Parece-me que os funcionários egípcios andaram a ver demasiadas vezes o filme Tubarão. A Mossad tem muitos assuntos bem mais importantes pela frente do que enviar tubarões para os vizinhos", confidenciou ao jornal El Mundo um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Seja como for, e enquanto mergulhadores, pescadores e cientistas tentam perceber o que se passa e os ecologistas receiam uma escalada no morticínio de tubarões, os banhistas vêem-se agora forçados a olhar para as quentes águas do Mar Vermelho sem poderem, sequer, molhar os pés, relata a BBC online. "Os turistas mantêm as suas actividades nos hotéis, podem continuar a embarcar nos barcos com fundos transparentes e a fazer excursões em terra. Podem fazer tudo menos tomar banho e mergulhar na área delimitada", enunciou o porta-voz das autoridades locais.
Talvez o susto passe e os turistas esqueçam rapidamente os ataques (em Portugal, agências contactadas pelo P2 não notaram qualquer oscilação na procura de um destino que, no mercado nacional, é relativamente marginal). Mas há quem receie que esta vaga de ataques tenha sido apenas um relance do que nos espera no futuro.
Não eram eles. Ou, pelo menos, não eram apenas eles. E lá se vão as semelhanças com o filme, onde a vaga sangrenta se devia apenas a um tubarão "psicopata"... Especialistas internacionais apontam agora para a hipótese de haver outra espécie envolvida nesta vaga sangrenta: o tubarão-mako. E aqui a trama, como em qualquer filme de suspense, adensa-se. Tanto o pontas-brancas como o mako são tubarões de mar aberto e, por isso, raramente são vistos perto da costa. Por que razão estariam eles agora a caçar em águas pouco profundas, atacando, ainda por cima, seres humanos?
Assassinos ou vítimas?
Não são, propriamente, meninos de coro: os pontas-brancas são mesmo considerados os maiores responsáveis por mortes humanas no mar devidas a ataques de tubarão. Mas não em episódios individuais. Por causa da sua abundância e agressividade, eram eles que dizimavam os marinheiros que sobreviviam ao afundamento dos seus vasos de guerra durante a Segunda Guerra Mundial.
Muitos mergulhadores relatam episódios em que se viram na presença de tubarões-de-pontas-brancas, sem que se tenham sentido ameaçados. Mas reconhecem que se trata de uma espécie com um comportamento menos tímido do que a generalidade dos tubarões. Isto pode dever-se ao facto de habitarem águas muito despovoadas, em que qualquer presa potencial deve ser considerada. E se os mergulhadores, com fatos vestidos e uma noção apurada do que se passa em seu redor, são relativamente fáceis de identificar, já os banhistas e as pessoas que observam recifes com máscara - e que chapinham à superfície - são mais susceptíveis de serem confundidos com presas.
Com um comprimento que pode atingir os quatro metros, os pontas-brancas são um predador formidável, mas não são eles que atacam banhistas e surfistas. Pelo menos até aqui. As notícias e imagens dramáticas que de vez em quando nos chocam são, normalmente, protagonizadas por espécies como o tubarão-branco, o tubarão-tigre ou o tubarão-touro. A questão, portanto, é perceber por que razão andam eles em águas costeiras, fora do seu habitat natural.Um pouco mais pequeno (até 3,2m), o mako é também susceptível de atacar humanos, mas é raro no Mar Vermelho. Em qualquer dos casos, porém, a balança tem pendido muito para o lado da espécie que domina o planeta. Outrora muito abundante, o tubarão-de-pontas-brancas tem agora o estatuto de "vulnerável" porque é o favorito dos gourmets para a sopa de barbatana de tubarão. Quanto ao mako, pela sua velocidade e capacidade para saltar fora de água, é considerado um valioso troféu de pesca desportiva.
Um relance do futuro
A sua presença nestas águas costeiras pode significar que encontram aqui a comida que a sobrepesca lhes roubou em alto-mar, mas há ainda outras explicações possíveis: diz-se que um cargueiro terá, recentemente, lançado ao mar várias carcaças de ovelhas mortas durante uma viagem pela zona, o que atrairia os predadores. Ou que os tubarões, devido à massificação do turismo, estariam a habituar-se à presença contínua de pessoas na água e o seu comportamento começava a passar do medo para a curiosidade (e, nesse caso, quaisquer objectos brilhantes, como jóias, poderiam atrair a sua atenção).
Ou ainda que os serviços secretos israelitas, a mítica Mossad, teriam lançado no Mar Vermelho um tubarão assassino para atacar a indústria turística do Egipto. Seria assim uma espécie de 11.ª praga, depois das dez que Deus, segundo a tradição judaico-cristã, fez cair sobre o povo do Nilo. Parece coisa para rir, mas o Médio Oriente não é sítio para brincadeiras e de Israel já vieram desmentidos formais.
Até porque os rumores iniciais acabaram por ter eco oficial. "Dizem que a Mossad soltou um tubarão assassino no Mar Vermelho para dar um golpe no turismo do Egipto. Não descartamos essa hipótese, precisamos de tempo para confirmar estas denúncias", avançou, em declarações à agência Reuters, o governador do Sul do Sinai, Abdel Fadil Shousha. Em Israel, a reacção não tardou: "Parece-me que os funcionários egípcios andaram a ver demasiadas vezes o filme Tubarão. A Mossad tem muitos assuntos bem mais importantes pela frente do que enviar tubarões para os vizinhos", confidenciou ao jornal El Mundo um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Seja como for, e enquanto mergulhadores, pescadores e cientistas tentam perceber o que se passa e os ecologistas receiam uma escalada no morticínio de tubarões, os banhistas vêem-se agora forçados a olhar para as quentes águas do Mar Vermelho sem poderem, sequer, molhar os pés, relata a BBC online. "Os turistas mantêm as suas actividades nos hotéis, podem continuar a embarcar nos barcos com fundos transparentes e a fazer excursões em terra. Podem fazer tudo menos tomar banho e mergulhar na área delimitada", enunciou o porta-voz das autoridades locais.
Talvez o susto passe e os turistas esqueçam rapidamente os ataques (em Portugal, agências contactadas pelo P2 não notaram qualquer oscilação na procura de um destino que, no mercado nacional, é relativamente marginal). Mas há quem receie que esta vaga de ataques tenha sido apenas um relance do que nos espera no futuro.
Público - 11-12-2010
Catarina Fitas
Sem comentários:
Enviar um comentário